VIVER SEMPRE - MORRER JAMAIS

Pensar, sentir, agir sem cessar: VIDA.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A MELHORA ANTES DA MORTE

Lidar com assuntos que consideramos graves ou chatos, com leveza e bom humor é sempre saudável; torna a vida mais fácil de ser levada.
Ontem um amigo que está vivendo uma dessas situações, para a maioria de nós, ainda difícil: a mudança de CEP de um familiar que está se transferindo de 3D para 4D, contou-me uma história bem humorada.
Um vô; um daqueles casos em que não há mais milagres a serem feitos, estava em casa aguardando o desenlace, o embarque para o lado de lá – casa cheia, parentes chegando – De repente, ele abriu os olhos, sentou-se na cama – e disse ao neto que estava ali segurando sua mão: Meu neto; que cheiro delicioso daquele bolinho de bacalhau que só sua avó sabe fazer – vai lá na cozinha e me trás um. O garoto foi e levou um esparramo da vó – daí a pouco voltou cabisbaixo ao quarto – o vô perguntou – Cadê meu bolinho de bacalhau? – Não trouxe vô – a vó me expulsou da cozinha dizendo que eles são para o velório!

Esta situação me fez relembrar, coisas da infância e até do presente; quando a dona da casa está na cozinha preparando algo, fica sempre uma turminha de butuca prá beliscar um bolinho, uma batata frita; creio que quase todos nós vivemos essas situações; esparramos são comuns: - Todo mundo fora daqui! – Quando eu puser na mesa vocês comem!

Lembro de um fato muito comentado em hospitais: a melhora antes da morte – o paciente que não tinha mais como sair da fila de embarque; estava mal e de repente melhorava – a família relaxava, alguns iam prá casa, e depois recebiam a noticia do “passamento” – a idéia básica do processo é diluir a energia de apego da família que atrapalha a partida.
Segurar defunto, esse, é um tipo de obsessão muito comum.

Que razões nos levam a segurar defunto ou a atrapalhar o recém chegado do lado de lá com lamúrias e desculpas vestidas na roupagem do sentimento saudade. Provavelmente porque nossa forma de amar ainda é doentia.
Nos casos de perda por morte; dois são os fatores patológicos, mais comuns:

Amor possessivo:
O amor como sentimento de posse é um desequilíbrio, um tipo de imaturidade afetiva que é capaz de fazer adoecer de forma grave. E até de reter desencarnado entre 3D e 4D.

Apego:
O sentimento do apego é uma variante do amor possessivo. A pessoa põe o sentimento que nutre pelo outro como uma das principais razões do seu viver. É desequilíbrio afetivo que muitos pensam ser amor. Muitas pessoas passam a levar uma existência quase vegetativa quando “perdem” um familiar, por exemplo.

QUEM AMA SE DESVELA

O correto é demonstrar nosso amor no dia a dia, antes da partida.
Amar implica em movimentar-se a favor daquilo que se ama. Portanto, o amor é atuante, ativo nas mínimas coisas.
Em se tratando de amor alguns desvios precisam de correção.

Cuidar do outro não é:

Sofrer com e pelo objeto do nosso amor; especialmente quando já se foi.
Interferir na sua vida; pior ainda, é atrapalhar seu ajuste na outra dimensão.
Tentar controlar-lhe a vida; e até a morte e o pós-morte; há pessoas que são tão controladoras que ficam preocupadas se a outra pessoa está bem no outro lado da vida – desnecessária e inútil essa preocupação. Basta mandar bons e-mails (pensamentos e sentimentos).

Quem ama liberta:
O amor é a própria liberdade.
Amar é ser livre e permitir que o outro também o seja. Mas, principalmente amar é libertar, cortar as amarras que nos prendem aos outros. Daí, um importante avanço na arte de amar é treinar o perdão incondicional e o desapego.

A maturidade do amor tem várias facetas que se desenvolvem assimetricamente na maior parte das pessoas. Avança em algumas e se atrasa em outras.

O amor e a maturidade intelectual: um ser que não estuda, não busca aprender não consegue amar - simplesmente - por desconhecer o que seja o amor.
O amor e a maturidade emocional: uma pessoa que não desenvolve sua soberania emocional desconhece a arte de amar; ou de respeitar e cuidar do objeto de seu amor.
O amor e a maturidade afetiva: o amor necessita fluir e precisa ser expressado, é preciso demonstrar às pessoas que elas são amadas.
O amor e a maturidade religiosa: Para amar a Deus é preciso estudá-lo e compreendê-lo. Para amar ao próximo é preciso aceitá-lo como individualidade e proporcionar-lhe todos os meios para que se liberte de suas dores e dificuldades. A mesma coisa vale para desenvolver o amor a nós mesmos.

De volta á melhora antes da morte:
O ideal é que ela seja coisa de vida inteira; dia após dia.
Especialmente é preciso dar ás pessoas o direito de morrer em casa; quando possível; pois, comida de hospital; ninguém merece...
Curiosamente hospitalizamos a vida de forma doentia: só é permitido nascer e morrer em hospital.

Se um dia, o amigo, sentir-se meio embotado, como se estivesse acordando de um longo sonho e sentir o cheirinho de uma das comidas que mais gosta – cuidado para não comer os acecipes do velório; fazendo com que os convidados sejam obrigados a beliscar os salgadinhos da padaria da esquina...
Se estiver internado e ouvir o médico dizendo a seus familiares: nossa; o paciente melhorou tanto que parece um milagre.
Fique esperto: você já era...

3 comentários:

  1. Gostaria de dizer, aqui, no seu espaço, que, de todos os textos que já li sobre a suposta MELHORA ANTES DA MORTE, esse foi o mais incrível. Parabêns!!!

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  2. Didático, bem humorado, mas também sensível. O melhor texto que já li a respeito... Obrigada Dr!

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